domingo, 7 de junho de 2015

Transtornos da Alimentação na Infância

O ato de alimentar-se para uma criança não é apenas algo com um fim nutritivo. A refeição é um ato social que põe a criança em contato com o mundo desde os primeiros dias de vida e constitui a base para a relação inicial mãe-bebê. Além disso, a depender das condições nas quais se efetua - rigidez de horários, metas de quantidade, dualidade do ambiente - pode assumir um caráter compensatório ou punitivo para os cuidadores (pai, mãe, babá) e funcionar como meio de troca para a criança.




De um modo geral, problemas na alimentação refletem mais um distúrbio sintomatológico do que um transtorno baseado em classificações patológicas e diagnósticas. Provavelmente por isso que sua definição, bem como o uso de terminologia padronizada e introdução nos manuais correntes de classificação psiquiátrica seja tão controversa. No entanto, na presença de prejuízo do desenvolvimento intelectual, social ou clínico da criança, é necessária uma intervenção especializada. Os transtornos alimentares da infância tem como participantes ativos o cuidador e a criança. Eles representam alterações da relação da criança com a alimentação e ocorrem precocemente na prática. São bastante diferentes daqueles que adolescentes e adultos sofrem, com causas, características e formas de tratamento distintas. Aqui, não parece haver uma preocupação excessiva com peso e/ou forma corporal.


DIAGNÓSTICO

Os transtornos alimentares são diagnósticos de exclusão. A antropometria (medidas do corpo) é o método preferencial para a monitorização do crescimento e detecção de crianças em risco nutricional. Formas eficientes de avaliação pondero-estatural incluem os gráficos para crianças e pré-púberes, principalmente como marcadores para perdas crônicas. É preciso o acompanhamento por pelo menos quatro meses para definir alterações, uma vez que o crescimento não se faz de forma linear. Todavia, a presença das repercussões sócio-emocionais deve ser bem caracterizada no cartão de acompanhamento da criança.

Perguntas que devem ser feitas pelo médico ou psicólogo, mas que pais também podem se basear.
Fonte: Kitade, Renata D. Transtornos alimentares na infância e na adolescência. 2008.



TIPOS DE TRANSTORNOS ALIMENTARES DA INFÂNCIA

Alguns critérios diagnósticos foram utilizados por pesquisadores para facilitar a identificação do transtorno e seu tratamento. As classificações apresentadas fazem parte do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV) e da Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10).

Pica ou Alotriofagia

Transtorno caracterizado pela ingestão de substâncias não-nutritivas, como terra, barro, cabelo, alimentos crus, cinzas de cigarro e fezes de animais. Pode tanto fazer parte de um comportamento psicopatológico isolado, como constituir um transtorno psiquiátrico mais global, como o autismo. É sabido que pica pode frequentemente estar associada a retardo mental, sendo, neste caso, este último o diagnóstico principal. Entretanto, a pica pode ocorrer em crianças com inteligência normal. Os critérios diagnósticos específicos são:

  • A. Ingestão persistente de substâncias não nutritivas por um período mínimo de 1 mês;
  • B. A ingestão de substâncias não nutritivas é inapropriada ao nível de desenvolvimento do indivíduo;
  • C. O comportamento alimentar não faz parte de uma práticas culturalmente sancionada;
  • D. Se o comportamento alimentar ocorre exclusivamente durante o curso de um outro transtorno mental (por ex., Retardo Mental, Transtorno Invasivo do Desenvolvimento, Esquizofrenia), ele é suficientemente grave a ponto de indicar uma atenção clínica independente.

Transtorno de Ruminação


Caracteriza-se principalmente pela regurgitação ou remastigação de alimentos. Mais comumente vista nos bebês, também pode ser visto em crianças mais velhas quando acompanhado de retardo mental. Condições clínicas que podem vir acompanhas são perda de peso, desnutrição (principalmente em bebês que ingerem grandes quantidades de alimento e logo depois regurgitam), alteração do equilíbrio eletrolítico, desidratação e até a morte.


Problemas psicossociais tais como falta de estimulação, negligência, situações de vida estressantes e problemas no relacionamento pais-filho podem ser fatores predisponentes. Uma subestimulação do bebê pode ocorrer, caso o responsável desencoraje-se e afaste-se, em razão de experiências mal-sucedidas de alimentação ou do mau cheiro do material regurgitado. 

Os critérios diagnósticos para o transtorno são:
  • A. Regurgitação repetida e remastigação do alimento por um período de pelo menos 1 mês após um período de funcionamento normal;
  • B. O comportamento não é devido a uma condição gastrointestinal ou outra condição médica geral associada (por ex., refluxo esofágico);
  • C. O comportamento não ocorre exclusivamente durante o curso de anorexia nervosa ou bulimia nervosa. Se os sintomas ocorrem exclusivamente durante o curso de retardo mental ou transtorno global do desenvolvimento, eles são suficientemente graves a ponto de indicar uma atenção clínica independente.


Transtorno Alimentar da Primeira Infância

Pode ser explicado como uma dificuldade em se alimentar adequadamente, levando a uma perda ponderal ou falha em ganhar peso de forma apropriada. Os sintomas parecem não estar relacionados a nenhuma condição médica geral, a um outro transtorno psiquiátrico ou à falta de alimentos. Em alguns casos, problemas na interação entre os pais e a criança podem contribuir para exacerbar o problema alimentar do bebê (por ex., apresentação inapropriada de alimentos ou responder à recusa do bebê a alimentar-se como se este fosse um ato de agressão ou rejeição). A ingesta calórica inadequada pode realçar os aspectos associados (por ex., irritabilidade, atrasos do desenvolvimento) e contribuir ainda mais para as dificuldades de alimentação. Os critérios diagnósticos diferem um pouco dos outros:
  • A. Pertubação na alimentação, manifestada pelo fracasso persistente em comer ou mamar adequadamente, com fracasso significativo em ganhar peso ou perda significativa de peso ao longo do período mínimo de 1 mês;
  • B. A pertubação não se deve a uma condição gastrointestinal ou outra condição médica associada;
  • C. A pertubação não é melhor explicada por outro transtorno mental ou pela falta de alimentos;
  • D. O início ocorre antes dos 6 anos de idade.


Texto feito por Camile Santa Rosa.

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